No dia 6 de Abril de 2011, a Assembleia da República aprovou, por unanimidade, o projecto de lei n.º 452/XI, subscrito pelos deputados Jorge Manuel Gonçalves, João Paulo Pedrosa, José Miguel Medeiros, Odete João, Osvaldo de Castro, Marcos Sá e Pedro Farmhouse, do Partido Socialista, que eleva a povoação de Ferrel à categoria de Vila.
Contra a central nuclear
No dia 15 de Março de 1976, o povo de Ferrel marchou sobre o local onde decorriam trabalhos preparatórios para a então projectada central nuclear. Essa impressionante manifestação de recusa, pacífica e determinada marcou o início da luta contra a opção pela energia nuclear em Portugal.
Em fevereiro de 1977, o movimento “Viver é preciso” lançou um apelo nacional com o manifesto “Somos todos moradores de Ferrel”, na luta contra a energia nuclear.
Neste manifesto podia-se ler:
• “Preparemo-nos. A contra-ofensiva das multinacionais nucleares está para deflagrar. É preciso que por toda a parte, nas escolas, nos hospitais, nos bairros e nas fábricas, nas faculdades e nas associações científicas, surjam comissões de solidariedade com a luta do povo de Ferrel. A região de Peniche tem já a sua CALCAN – Comissão de Apoio à Luta Contra a Ameaça Nuclear). Mas é bom que por todo o país a ameaça nuclear encontre uma frente unida de partidários da Vida”.
• “Quando os pescadores e camponeses de uma pequena aldeia marítima do litoral de Peniche tocam os sinos a rebate para dizer "não!" à central nuclear que lhes querem impingir, graças a eles, Portugal pode ser o primeiro país do mundo a pronunciar-se contra o holocausto nuclear no seu território”.
Em junho de 1977, foi lançado um novo manifesto sobre a política energética e a opção nuclear. Cento e dez cientistas e técnicos ligados ao problema nuclear debateram a nível nacional estas questões.
Em janeiro de 1978, nas Caldas da Rainha e em Ferrel, realizou-se o festival “Pela vida contra o nuclear”, que reuniu cerca de três mil pessoas. Decorreram debates, espetáculos e outras atividades, nos quais participaram nomes como Zeca Afonso, Vitorino, Pedro Barroso, Fausto e Sérgio Godinho.
Foram recebidas mensagens de representantes de grupos anti nucleares espanhóis e dos mais variados pontos do mundo.
Lembrar-se-ão aqueles que estiveram presentes na mobilização: ninguém arredou pé e realizou-se uma caminhada alegre em direção ao local onde se previa a construção da central. No local, os manifestantes encontraram forças da GNR. Não se deram incidentes e simbolicamente foram plantados alguns quilos de batatas oferecidos pelos agricultores de Ferrel.
Em 1982 o projeto nuclear foi abandonado.
Já passaram alguns anos desde que o povo de Ferrel marchou até aos campos do Moinho Velho.
A 15 de Março em 1976, os 1500 habitantes de Ferrel também se deslocaram a este local, situado a quatro quilómetros da aldeia, e conseguiram impedir o avanço dos trabalhos.
Esta manifestação marcou início de um processo que culminaria com a desistência do projecto, tendo-se realizado até 1978 outras manifestações que contaram com o apoio de organizações ambientalistas internacionais.
No "Moinho Velho", jovens activistas do não ao nuclear escreveram várias faixas com frases a favor das energias renováveis. No local para onde estava prevista a central os campos encontram-se hoje cultivados com produtos hortícolas. Os 150 hectares permanecem terrenos baldios, mas são ocupados por uma centena de agricultores.
O dia em que os sinos de Ferrel dobraram contra a energia nuclear.
Há 40 anos, o povo de Ferrel saiu à rua para impedir a instalação de uma central nuclear na aldeia. Pela voz de alguns dos protagonistas do protesto, recordamos esse dia 15 de Março de 1976, quando Ferrel fez nascer o slogan Nuclear, Não obrigada.
Escritos por Fausto, estes versos imortalizaram a luta do povo de Ferrel contra a instalação de uma central nuclear nesta aldeia de Peniche, travada há precisamente 40 anos. Por volta das 8 horas da manhã do dia 15 de Março de 1976, os sinos da capela de Nossa Senhora da Guia soaram a rebate. D. Crialmina, agricultora já falecida, tocou sem parar. Nem mesmo quando o badalo se desprendeu ela parou. Pegou nele e continuou a dar pancada no sino.
A população da aldeia e das povoações vizinhas acorreu, em força, juntando-se no largo da igreja, armada com todo o tipo de alfaias agrícolas. Enxadas, foices, sacholas, forquilhas, ancinhos, picaretas... Tudo servia para travar o 'monstro'. Foi dali que aquele aglomerado de pessoas – cerca de duas mil – marchou em direcção à serra, mais propriamente aos baldios de Moinhos Velhos, onde decorriam trabalhos de prospecção com vista à instalação de uma central nuclear. A missão era pôr fim a essas pesquisas.
“Uns iam a pé, outros de motorizada ou montados em carroças de burro, tractores, camionetas ou até em cima de debulhadoras”, conta António Júlio Santos (antigo presidente de Junta), que morava no largo da igreja e que, assim que ouviu o sino, acorreu ao local. A viagem até ao alto de Moinhos Velhos, um trajecto com cerca de quatro quilómetros, demorou “mais de três horas”. “Aquilo era quase só areia. Altos e baixos. Não havia um caminho digno desse nome”, acrescenta, frisando que os trabalhos decorriam em “grande secretismo”. Nesse manhã, Tadeu Simões, já estava a trabalhar no campo quando ouviu o sino. “Larguei tudo e vim a correr”, recorda. Sem saber muito bem “ o que se estava a passar”, acompanhou a multidão, longe de pensar que iria participar num “acto heróico e corajoso do povo de Ferrel, a bem do País e da democracia”.Há 40 anos população de Ferrel, no concelho de Peniche levantou-se para se opor ao projeto de instalação no local de uma central nuclear. O protesto popular foi imortalizado numa música. Em "Rosalinda" Fausto canta : "...e em Ferrel, lá para Peniche, vão fazer uma central que para alguns é nuclear, mas para muitos é mortal".
António José Correia, presidente da Câmara de Peniche, era, na altura do protesto, colaborador do jornal local "O Arado". Recorda que a contestação à central nuclear juntou centenas de pessoas que "iam munidas dos seus instrumentos de trabalho, uns iam de trator, outros de bicicleta e outros de burro".
Apesar do aparato , da presença no local de centenas de pessoas e de muitos guardas da GNR, o protesto contra a central nuclear em Ferrel decorreu sem incidentes; "Não aconteceu nada, houve respeito mútuo. Foi uma manifestação pacífica".
António José Correia diz que a manifestação não teve o apoio de partidos políticos ou de associações ambientalistas. Foi genuinamente popular. Um "não" ao nuclear que se fez ouvir. A central de Ferrel nunca saiu do papel.
Manifestação do povo de Ferrel contra a construção da Central Nuclear.
Algumas ruas de Ferrel e doutras freguesias de Peniche irão ter o nome de pessoas que se destacaram nos movimentos de protesto graças aos quais a central nuclear projectada para aquela zona da costa portuguesa nunca chegou a ser construída. O anúncio foi feito por António José Correia, presidente da Câmara de Peniche, numa sessão evocativa da marcha sobre o Moinho Velho realizada domingo, dia 13 de Março, de manhã, em Ferrel, com a presença de largas centenas de pessoas que presenciaram a cerimónia.
A 15 de Março de 1976, fez este ano 40 anos, a população de Ferrel, alertada pelo toque de sinos a rebate ao nascer do dia, marchou sobre o local da projectada central atómica e destruiu as construções provisórias lá existentes. Iniciava-se uma luta que marcou o nascimento do movimento ambientalista em Portugal, se prolongaria até ao final da década de 70 e culminaria com a decisão governamental de desistir daquela localização quando se comprovou aquilo de que suspeitava desde o início: a existência de uma falha sísmica que traria riscos acrescidos ao funcionamento da central.
De entre as pessoas a distinguir avultam D. Crialmina, moradora local que tocou o sino a rebate e fez juntar a população de Ferrel, bem como o catedrático do Instituto Superior Técnico Delgado Domingos que apoiou técnica e cientificamente a luta dos moradores, uma e outro já falecidos.
O movimento anti-nuclear de Ferrel começou a ganhar expressão nacional e muitos apoios de pessoas de fora do concelho, nomeadamente intelectuais, estudantes, professores universitários, militantes dos primórdios da ecologia, etc, com a realização a 21 e 22 de Janeiro de 1978 do Festival pela Vida e Contra o Nuclear onde participaram cantores como Zeca Afonso ou Fausto. Este último dedicaria a Ferrel e à luta dos seus moradores a canção “Rosalinda”.